Corre por aí a notícia de que Cavaco Silva prescindiu do vencimento de Presidente da República. Não é verdade. O que se verificou foi uma coisa bem diferente, que consistiu em Cavaco ter optado (optar não é prescindir) pelas reformas do Banco de Portugal e da Universidade Nova, cujo montante é superior a 10.000€/mensais.
Mas isto não foi feito por vontade própria. Mas por imposição legal, visto o governo ter publicado legislação impeditiva da acumulação de vencimentos provindos do exercicio de funções no sector público com pensões pagas pela CGAposentações (Sector Público). Curiosamente, Cavaco não prescindiu (aqui sim, podia prescindir) da pensão do Banco de Portugal. Mas, comprende-se: tem necessidade de sustentar a mulher que, coitada, só tem uma pensão mensal de 800€ e a sopa dos pobres não chega para todos.
Cavaco Silva ganhou as eleições presidenciais. Independentemente da grande perda de votos relativamente à sua primeira eleição e da mais reduzida percentagem de eleitores que nele confiaram, em cotejo com todas as reeleições presidenciais verificadas em Portugal depois do 25 de Abril, a sua legitimidade não está em causa, embora, certamente, não seja de ignorar a situação de desconforto que decorre de tal facto.
Todavia, o que verdadeiramente me chocou foi o seu discurso de vitória. Um discurso ressabiado e vingativo, um discurso que verdadeiramente lhe retira a legitimidade de se afirmar como Presidente de todos os portugueses. Foi um discurso de um chefe de facção, não de um Presidente da República. Mais: pretendendo colocar-se num patamar acima do comum dos mortais, não esclareceu as dúvidas suscitadas por outros candidatos e pela comunicação social, relativamente às trapalhadas em que se envolveu ou foi envolvido pelo seu grupo de amigos e "compagnous de route".
Com o referido discurso, ou discursos, Cavaco demonstrou, uma vez mais, como é politica e intelectualmente apoucaqdo.
Fez bem Defensor Moura em não lhe endereçar as felicitações pela vitória. De facto, um candidadato com esta folha de serviços não merece os parabéns pela vitória. O País é que merece os pêsames pela derrota.
Mas há outras ilações a retirar destas presidenciais. Manuel Alegre não perdeu agora a possibilidade de ser Presidente da República. Perdeu-a em 2005, quando se apresentou a votos contra o candidato oficial do Partido. Derrota que consolidou ao longo dos úlimos 5 anos, ao manter uma guerrilha permanente com o seu Partido e com o Governo. O PS, por sua vez, não perdeu em 2005. Perdeu agora, ao apoiar Alegre. Era a oportunidade de ter apresentado um candidato próprio, sem ir a reboque do BE e do próprio Alegre, de modo a que mesmo não saindo ganhador nestes eleições, marcasse terreno para 2015.Um erro estratégico, a meu ver, com custos enormes para o Partido e para o País.
Porém, é a vida.
Não eram para mim desconhecidas as tropelias de Cavaco, no referente à compra e venda de acções da SLN, tal como não desconhecia as cumplicidades e as relações promíscuas (e frutíferas) mantidas com o grupo de mal-feitores que fundou e geriu o BPN - mas também o BPP, nomeadamente o Rendeiro. Mesmo assim, porque não gostei do processo de candidatura de Manuel Alegre, mas também porque preferia outro candidato que agrupasse as gentes de esquerda, estava disposto a conceder-lhe o benefício da dúvida e a nele votar.
Agora não. Depois de directamente interpelado a esclarecer os contornos do negócio, negando-se a fazê-lo, não pode, de modo algum, contar com o meu voto. Um Presidente da República, candidato à reeleição, não pode tentar atirar com areia para os olhos dos eleitores. Ademais, quando esse candidato, que foi ministro das finanças, primeiro -ministro e presidente da república em exercício, tanto gosta de publicitar a sua competência como professor de economia e finanças, apresentando-se como o mais sábio, o mais atento, o mais honesto, o mais prudente e quando ele próprio advertiu os portuguese de que o valor das empresas não pode chegar ao céu, não se concebe que o mesmo, em dois anos - ele e a filha - comprem e vendam acções da SLN com um lucro de 140% (é obra!) e ao ser questionado sobre os contornos do negócio, em vez de o explicar, como lhe competia e compete, reaja como virgem ofendida.
Ora, sabe-se hoje, que não houve contrato de compra e venda, mas sim um despacho de Oliveira e Costa, a determinar o pagamento daquele valor. Percebe-se melhor, agora, o buraco (a cratera) do BPN. Os gestores e accionistas da SLN sacavam do BPN para depois distribuirem directamente entre si ou pelas empresas de que eram sócios.
Foi sempre a sacar. Primeiro, ao que consta e não tem sido desmentido, a própria constituição do BPN agregou um conjunto de accionistas da zona de Aveiro, que tinham sido objecto de perdões fiscais por parte do famigerado Oliveira e Costa, então Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (homem da inteira confiança de Cavaco e cujos cargos desempenhados foram sempre pela mão daquele); depois, toda a história que se sabe - rica em patifarias e malabarismos financeiros -, mais a que se não sabe e parte da qual duvido que algum dia se venha a saber.
Mas há duas coisas que já se sabem:
a).- a primeira é que todas essas tropelias, trapalhices e trapacisses, vão ser pagas, com língua de palmo, pelos contribuintes portugueses;
b).-a segunda, é que um candidato deste jaez, não serve, não pode servir para Presidente da República.
Se tal candidato for eleito, só uma conclusão se pode tirar. O País não está doente. O País está em estado comatoso.
Com ou sem derrota de Cavaco, Bom Ano para todos.
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